A civilização
humana mostrou-se dramaticamente eficaz em gerar sociedades desiguais, e por
isso sempre produziu espaços também desiguais. Da cidade antiga às metrópoles
industriais, passando pelos burgos medievais ou paradisíacas cidades
litorâneas, fosse por motivos religiosos, econômicos ou militares, os poderosos
do momento sempre se beneficiaram, ao longo da história, dos melhores lugares
para viver. E o desenho dos urbanistas pôde servir, paradoxalmente, tanto para
garantir-lhes esses privilégios, em algumas épocas, como para tentar
combatê-los ou remediá-los, em outras. Por isso, a primeira constatação que se
pode fazer é a de que, face à trágica desigualdade que marca as cidades
brasileiras, o principal objetivo do urbanismo deve ser, antes de tudo, o de
garantir cidades mais justas. Em outras palavras, cidades que ofereçam, sem
diferenciação, qualidade de vida para todos os habitantes, nos dias de hoje e
para as gerações futuras. O equilíbrio urbano, entretanto, só será possível
quando se conseguir erradicar a miséria, que se expressa nos assentamentos
informais desprovidos do atendimento às necessidades mínimas para se viver com
dignidade.
(Ferreira, 2012)